Psicanálise: Relação entre o Cristianismo e o Tarô.

Um olhar através da Primeira Tópica de Freud

Existem muitos tipos de Tarô (ou Tarot em inglês) no mundo, sendo um dos mais conhecidos entre eles, o Tarô de Rider-Waite ou Tarot Waite-Smith, composto por setenta e oito cartas. Entre as cartas do Tarô, existem vinte e duas cartas que são chamadas de Arcanos Maiores e outras cinquenta e seis cartas que são conhecidas como sendo os Arcanos Menores. Juntas, essas cartas formam um apanhado muito completo de símbolos.

O psicólogo suíço Carl G. Jung (1875 - 1961), consolidou a distribuição dos vinte e dois arcanos maiores nos doze arquétipos de tendências psicológicas que existem no íntimo do subconsciente do ser humano, desde sua criação. Arquétipos estes que correspondem também às doze casas do zodíaco. Em grande sincronicidade percebe-se que são também doze os planetas dos sistema solar, os meses do ano, entre demais ocorrências do número doze aparecendo ao centro do funcionamento dos mais variados e importantes eventos da vida.

Para algumas pessoas a tradição da ceia natalina está ligada à última ceia de Cristo ao lado de seus discípulos

Pintor da famosa obra “A Santa Ceia” (The Last Supper), Leonardo da Vinci (1452 - 1519), um dos maiores gênios de seu tempo, descobriu que cada signo astrológico poderia ser metaforicamente associado a um dos vários indivíduos que tiveram papel importante na história cristã, como Jesus (7-2a.C - 0-33d.C), os apóstolos, entre outros. Mais especificamente, cada signo correspondendo a um apóstolo de Cristo, que ocupa o centro do “círculo" onde estaria o Sol de acordo com a teoria do Heliocentrismo Copernicano, publicado em 1543.

De acordo com a especialista junguiana, psicologa analista e tarologista, Sallie Nichols (1908), em uma leitura simbólica, não-literal, as cartas do Tarô podem ser usadas como instrumento poderoso de autoconhecimento, usando-se também a intuição para o aconselhamento. Não necessariamente prevendo o futuro, mas também criando a oportunidade de "participação no processo de criação de um futuro imprevisível” (trecho em tradução livre da autora).

Com sua iconografia cristã, desde o seu nascimento ocorrido na segunda metade do século XIIV, até os dias atuais. O tarô, como é conhecido hoje, já passou por muitas alterações.

Hoje existem vários tipos diferentes de baralhos que podem acrescentar cada vez mais símbolos ao seu já amplo e rico leque de imagens, para engrandecer ainda mais as possíveis leituras feitas com esta poderosa ferramenta.

Como instrumento de autoconhecimento, o Tarô possui a capacidade de revelar informações de nosso inconsciente, servindo simbolicamente como uma ponte capaz de estabelecer um valioso diálogo com partes até então ocultas da mente humana, elementos desconhecidos da percepção do indivíduo em seu estado consciente.

Mas afinal de contas o que são inconsciente, subconsciente e consciente?

Tratam-se dos três sistemas do aparelho psíquico que funcionam como lugares “virtuais” da consciência humana, de acordo com a Primeira Tópica de Freud. Tal noção foi inicialmente mais claramente aborda por Sigmund Freud (1856 - 1939) em “A interpretação dos sonhos”, obra de 1900.

Em seguida esta ideia foi revisitada, em 1906, por Carl Jung, psicólogo suíço que foi capaz de estabelecer um paralelo entre o Tarô com toda a sua simbologia e o seu potencial uso ao possibilitar um diálogo entre o inconsciente e o consciente.

Jung experimentalmente provou a existência do Inconsciente em 1906. Fato que o aproximou do trabalho de Sigmund Freud com relação a estruturação do aparelho psíquico, sendo formado por Consciente, pré-consciente e inconsciente, sendo este último também podendo ser denominado vez ou outra como percepção consciência.

De acordo com Freud o sistema consciente recebe, porém não retém, as informações que chegam através de estímulos externos. Isso significa que o registro desses estímulos é feito de forma qualitativa considerando-se o desprazer ou prazer que tais estímulos são capazes de causar.

Em algumas literaturas o pré-consciente também é chamado de subconsciente. De acordo com Freud o pré-consciente funciona como uma espécie de “peneira” capaz de selecionar as informações que podem passar ou não podem passar para o consciente. Exercendo dessa forma um papel de “barreira de contato” que possui como principal papel a função de filtragem sistêmica.

O pré-consciente também se difere do consciente por possuir a capacidade de arquivar os registros de informações, sendo a zona central de "representação de palavra" (Freud, 1915).

Ainda seguindo as definições de Freud, a "parte mais arcaica do aparelho psíquico” é amplamente conhecido como o inconsciente, ao qual naturalmente não teríamos acesso. Esta parte do aparelho psíquico tem as pulsões do id (Segunda Tópica), além de também ter as leis do processo primário como forma de funcionamento.

O sistema inconsciente tem sua formação num momento em que ainda não haviam palavras. As representações, no entanto, ficam guardadas, como se símbolos estivessem impressas na mente do indivíduo.

Expandindo-se ainda mais o conceito de inconsciente, Jung propôs conceitos como arquétipo, Individuação, sincronicidade e o conceito de inconsciente coletivo, conhecido por ser uma biblioteca de todo o conhecimento da humanidade com ideias, sentimentos, e ações de todas as pessoas.

Nesse contexto, o tarô oferece uma oportunidade de, através de sua linguagem básica, ou seja, os símbolos, uma ponte de comunicação entre sistemas, consciente, inconsciente, pré-consciente, e expandindo-se também para o inconsciente coletivo.

Jung foi o primeiro a descobrir uma correlação entre o simbolismo do Tarô e os conteúdos inconscientes existentes nos seres humanos. Tais conteúdos são universais independentes de etnia. Nas cartas de Tarô, Jung encontrou grande variedade de instrumentos de pesquisa que possibilitavam um diálogo entre sistemas.

Dessa forma, o que algumas pessoas entendem como a voz de anjos, deuses, demônios entre outras entidades que “falam” através do Tarô, para Jung na verdade trata-se da voz do inconsciente.

E pra você? O que é o tarô?