Como ensinei minhas cachorras a falar
- SaeLoveart

- 13 de ago. de 2022
- 6 min de leitura
Atualizado: 14 de jan.
Eu sei que é um pouco incomum, mas se você não se importar, vou usar este espaço no meu blog para trazer algumas informações sobre este tema.

O Laboratório Comparative Condition (CCL) da Universidade da Califórnia - San Diego, está em colaboração com o FluentPet para determinar como e o quanto os não-humanos são capazes de se expressar de maneiras semelhantes à linguagem.
Minha Lulu da Pomerânia, Misha, é participante dessa pesquisa, usando ferramentas de coleta de dados, como o aplicativo de registro de pressionamento de botões (ainda em beta teste) e envio de relatórios de progresso (a cada duas semanas). Misha também é monitorada por uma câmera 24h.
A Pesquisa
Misha faz parte de um estudo em grande escala com centenas de participantes sobre como os cães estão usando "interfaces de som" com Botões ACC para se comunicar com humanos e como isso muda suas habilidades comunicativas.
Trata-se de um desenvolvimento de uma ferramenta usada com crianças com dificuldades comunicativas e ferramentas semelhantes já foram usadas com primatas não-humanos no passado.
A equipe está trabalhando tanto nos aspectos de memória quanto especialmente nos aspectos linguísticos, por exemplo, como combinam palavras para produzir frases, com que rapidez aprendem novas palavras, que tipo de coisas comunicam, etc.

A casa
Misha é a principal aprendiz em nossa casa porque ela demonstrou interesse pelos botões desde o primeiro dia. Ela está muito animada com eles.
Cookie é nossa aprendiz secundária porque ela é mais tímida em relação a mudanças de rotina, então não a pressionamos.
Tentamos o nosso melhor para criar um espaço seguro onde todos se sintam confortáveis.
Eu sou a treinadora primária da casa porque tenho um pouco de experiência com adestramento canino, fiz curso de primeiros socorros para cães e gatos e já faz algum tempo que eu estudo Emoção e Cognição Canina (pela Duke University). No entanto, é importantíssimo esclarecer que eu faço tudo isso como um hobby. Profissionalmente eu trabalho com Design Gráfico de UX/UI, sem nenhuma correlação profissional com a equipe de pesquisa. Então tudo o que eu falo e compartilho sobre esse experimento trata-se exclusivamente de um ponto de vista de um tutor de cães, e jamais deve ser interpretado como uma opinião científica.
Botões ACC
Os botões graváveis são um tipo de Dispositivo de Comunicação Aumentativa e Alternativa (AAC). Eles podem ajudar as pessoas a se comunicarem quando falar é difícil (autismo, mutismo seletivo, qualquer tipo de patologia da fala, lesão nas cordas vocais, acidentes e qualquer outro motivo). Eles também podem ser usados para apoiar a aprendizagem de causa e efeito.
Eu uso os botões do Hunger4Words, promovidos pela Dra. Christina Hunger, uma patologista norte-americana especializada em fala e linguagem, porque eles são os botões mais fáceis de encontrar onde eu moro. Posso encomendá-los em qualquer lugar e recebe-los na porta de casa em poucas horas! Outras alternativas de botões precisariam ser enviadas de outros estados ou até mesmo do exterior, envolvendo ainda mais recursos de transporte... Eu tento ao máximo manter um baixo impacto ambiental em minhas compras.
Observe que qualquer botão gravável já funciona como um Botão ACC quando usado da maneira correta.

O aplicativo de rastreamento de botões
Depois de enviar o primeiro Relatório de Progresso da Misha, eu recebi instruções para instalar e usar o aplicativo de coleta de dados. É um aplicativo de versão beta, isso significa que o mesmo ainda não foi lançado - no momento - então o aplicativo não pode ser encontrado em sua App Store normal. Se você estiver lendo esta publicação no futuro, talvez já esteja até disponível, quem sabe?
Para usar o aplicativo foi necessário fazer o download e instalação de uma Interface de Teste de Aplicativos que me foi fornecida pelo próprio Laboratório. Então este não é um produto meu e eu não tenho autorização para distribuí-lo.
Quais palavras usar?
Preste atenção nas palavras ou frases que são frequentemente usados por você e altamente motivadoras para o seu pet, como "passear", "petisco", "biscoito", etc.
Anote as palavras que você se percebe usando frequentemente para que você possa consultá-las mais tarde.
Honre a comunicação atual do seu pet. Se você perceber que seu pet está tentando
dizer-lhe algo através de choros, ou arranhando com as patas, sentando, ou olhando para você, busque responder! Não é só porque agora vocês tem botões com palavras que você vai passar a ignorar completamente qualquer outro meio de comunicação que o seu pet possa tentar usar... Não fazemos isso nem com as pessoas, que possuem o vocabulário extremamente amplo.

Paw Targeting: O que é Treinamento da "Patinha no Alvo"?
O treinamento da "Patinha no Alvo" nada mais é do que ensinar o seu pet a tocar um objeto predeterminado. Esse tipo de treinamento pode ser útil para ensinar ao seu pet que os botões são importantes. A recompensa ajuda a prender a atenção deles naquele objeto.
No instagram eu mostrei dois estágios desse treinamento com a Cookie, a minha aprendiz secundária que não tinha lá muito interesse pelos botões.
Como posso iniciar o Treinamento da "Patinha no Alvo"?
Para o treinamento da "Patinha no Alvo", é necessário recompensar o acerto no alvo com um prêmio... Pode ser um petisco ou um brinquedo. É importante você descobrir qual é a "moeda de troca" de seu pet. As pessoas acreditam erradamente que todos são completamente loucos por comida, quando na verdade não é bem esse o caso. Alguns cães não ligam pra comida, mas são loucos por um brinquedo específico ou alguma brincadeira favorita. Isso também vale pra gatos.

Comece treinando seu pet aprendiz para colocar o nariz, a pata ou garra em um botão com um som sem sentido. Nessa etapa eu geralmente considero QUALQUER interação com o alvo, ou seja... nariz, orelha, cheirar, bater, sentar hahahaha... Estabelecendo um parâmetro mais baixo pra garantir os primeiros sucessos e, dessa forma, deixar o seu pet ainda mais motivado a continuar com o treinamento.
Se o pet tiver dificuldade em apertar o botão, por ser algo extremamente diferente e fora do cotidiano dele, basta usar um potinho pequeno ou uma tampa de iogurte... qualquer coisa! Ajuda se for transparente e seu pet aprendiz puder ver o prêmio que tem lá dentro.

Evite usar botões de palavras reais para não ensinar "errado", nem dessensibilizar um som que poder ser útil no futuro. A menos que você possa seguir com o significado do botão de treinamento, como "comer", ou "petisco", ou "biscoito" ...e ser exatamente isso que você está botando dentro do potinho transparente.
Os botões da sua "interface" de som devem ser recompensados exclusivamente com o evento ou objeto associado ao som. Nada de dar um petisco pra som que não é um petisco! Fazer isso só vai confundir ainda mais a cabecinha deles.
Então se o pet aprendiz pressionar “pra fora”, ele pode sair (quem tem quintal), ou "passear", você pega a coleira e vai dar uma volta com ele... e quando ele aperta "brincar", você pega um brinquedo e brinca com ele.
Ou seja... no início, eu particularmente recomendo que seja feita a escolha de sons (palavras) que você pode cumprir com maior facilidade, pois dessa forma você terá mais oportunidades de cumprir com o evento ou objeto associado ao som que está sendo estudado naquele momento.
Os primeiros botões costumam ser mais difíceis de estabelecer... Depois de um tempo o cão fica mais familiarizado com o comportamento de apertar os botões e também com a dinâmica que é criada entre causa e efeito (som e objeto/evento).
Sugiro que se inicie o treinamento em um fim de semana que vc vai estar em casa, pra ajudar a fixar bem nesse primeiro momento. Depois você pode começar a dizer "não", "depois", sempre indicando que você ouviu e entendeu o que o pet está comunicando.
"Vai passar o dia todo pedindo comida"
Você não tem que ceder a todos os seus pedidos de guloseimas, passeios, brincadeiras, de seu pet. Repito, você não precisa fazer tudo o que o seu pet pedir... E mais uma vez pro pessoal do fundo: Você não deve virar escravo do seu pet... É nessas horas que você deve aproveitar a oportunidade para ensinar limites... O mesmo vale para humanos ;)
Mas se seu pet está tentando chamar a sua atenção, então adquira o hábito de reconhecer e responder sua “linguagem”, mesmo que seja apenas expressão corporal, sem palavras.
"Oi, eu te ouvi. Mas agora é: Não"
Mesmo que seja para dizer "não" ou "depois" ou "mais tarde". Tudo isso também faz parte do aprendizado e trata-se de uma etapa importante para ensinar limites. Isso cria confiança mútua e bons hábitos de comunicação.
Com o passar do tempo o pet começa a entender melhor como funciona a rotina da família e passa a entender quais são os melhores momentos para comunicar alguma necessidade.
Nem tudo deve ser interpretado como um pedido!
No estudo do Laboratório Comparative Condition (CCL) da Universidade da Califórnia - San Diego, já foi observado o comportamento de comentar uma situação que está acontecendo. Ou seja, os cães não se comunicam apenas para solicitar algo. Eles também gostam de fazer comentários sobre as atividades que a família está realizando.
Pessoas se reunindo na porta para sair de casa "tchau"; Você já está brincando com ele "brincar"; A família está sentada a mesa jantando "comer"... ué, mas ele acabou de comer agora, não é possível que esteja com fome!... e não está.
Por isso muitas interfaces de som pelo mundo tem botões como: "feliz", "gato", "sossega", "estranho", "janela", "barulho", "vizinho"... As possibilidades são enormes. A comunicação não se limita a pedidos e solicitações.
Você pode encontrar mais informações sobre a pesquisa aqui: https://www.theycantalk.org



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